CAPÍTULO 15

Eram cerca de 5h da tarde quando um carro preto estaciona na frente da praça da cidade. Do outro lado da rua há uma lanchonete. Três homens bem vestidos descem do carro e seguem rumo ao estabelecimento.

Os três sentaram-se à mesa. Logo uma jovem vem atendê-los. Era Lia, a garçonete. Com apenas 18 anos, a moça estava em seu primeiro emprego. Ela aproximou-se da mesa com três cardápios em mãos e os distribuiu. Foi o mais alto deles quem falou.

– Boa tarde, senhorita. Queremos apenas uma pizza. Pode ser de calabresa. Tamanho grande.

– Os senhores desejam algo para beber?

O homem então olhou alguns instantes para o cardápio e, finalmente, concluiu.

– Quando trouxer a pizza, traga também uma jarra de suco de maracujá, por gentileza.

A forma educada com que o homem falara chamou a atenção da moça. Além disso, ele mantinha sempre um sorriso simpático no rosto. Ela sabia que eles não eram da cidade. Lia anotou o pedido e se afastou.

Ela entregou o pedido na cozinha e retornou ao atendimento. Espalhou pratos e copos sobre a mesa do trio e, depois, permaneceu o observando. Além daquela mesa, havia apenas mais duas ocupadas no estabelecimento, mas ambas já haviam sido servidas.

Durante a semana, Lia era a única garçonete do lugar, o que era facilmente explicado pelo pouco movimento de clientes. A lanchonete tinha seu ponto alto nos fins de semana, quando outras três garçonetes reforçavam o atendimento. Algumas vezes também havia aumento por volta do meio dia, quando crianças saíam da escola e algumas passavam por ali.

Naquela segunda-feira, contudo, as coisas estavam normais. Os rostos de sempre, pedindo as coisas de sempre. Isso até aquele trio chegar. As pizzas não costumavam sair muito durante a semana. Os pedidos aumentavam a partir da sexta-feira.

Passaram-se cerca de vinte minutos até a pizza ficar pronta. Lia levou primeiro o suco e serviu um copo a cada um, deixando a jarra com o restante sobre a mesa.

Na sequência, a garçonete aproximou-se com a pizza. Mais uma vez, serviu uma fatia a cada um e deixou o restante. Ela se virou para sair quando o mesmo homem que fez os pedidos a chamou.

– Senhorita Lia.

Ela estremeceu. Como aquele homem sabia seu nome?

Lia se virou novamente para a mesa, sem conseguir esconder a surpresa. Demonstrando certo constrangimento, o homem explicou:

– Desculpe. Eu vi seu nome nesse adesivo colado em seu peito.

A pequena lanchonete não fornecia crachás aos seus funcionários, mas matinha um enorme rolo de adesivos, onde as funcionárias, ao chegarem, escreviam seus nomes e colavam sobre a roupa. Lia sempre seguia este ritual mas, comumente, esquecia que estava com o adesivo. Muitas vezes a moça chegou até a sua casa ainda com o adesivo no peito.

– Tudo bem. Isso sempre acontece –, respondeu a garçonete, claramente mentindo.

– Eu sou muito observador. Espero que isso não a incomode.

– Imagine. Está tudo bem.

– Fico muito feliz com isso. Escute, você conhece a mulher desaparecida? Laura? Estivemos procurando a casa dela para conversarmos com seus familiares. Gostaríamos de ajudar o máximo possível.

– Me desculpe a indiscrição mas... quem são vocês?

Embora o homem fosse muito simpático e educado, a garçonete não deixou de perceber o súbito interesse em Laura. Também era muito suspeito eles terem aparecido logo naquele período. Como não eram da cidade, Lia começou a imaginar que poderiam estar envolvidos com um possível sequestro.

O homem deu um largo sorriso, que não disfarçou seu constrangimento, e então respondeu:

– Claro! Você está certa. Foi muito grosseiro da minha parte. Eu sou Manoel. Estes são meus amigos Luís e Danilo. Estamos aqui em nome de Deus. Queremos trazer conforto às pessoas. Estivemos na casa da senhora Glória, mãe de Fábio. Ela ainda está muito abalada, mas acredito que as palavras do nosso Senhor tenham confortado seu coração. Vamos voltar lá nos próximos dias. Queríamos fazer o mesmo pela família de Laura.

– Vocês são religiosos? De qual igreja?

– Isso não é o mais importante. Deus é um só. Servimos a Ele. Isso, sim, importa.

– Entendo. Infelizmente, não vou poder ajudar. Eu não conhecia nenhum dos desaparecidos. Apenas torço para que estejam bem.

Lia afastou-se dos homens, após um leve aceno com a cabeça. O modo como eles agiam, realmente, parecia ser de pessoas religiosas. Ainda assim, ela achou estranho o súbito interesse.


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