CAPÍTULO 14

Bruce, Sofia, Elza, Samuel, Fábio e Laura. Os nomes estavam dispostos em forma de lista. Como se não bastasse a inclusão de mais dois nomes, Geovane reconheceu a caligrafia dos dois últimos: era a sua. Como aquilo poderia ser possível? Quando aqueles nomes foram incluídos ali? Eles foram escritos antes ou depois do desaparecimento de ambos? O menino não conseguia responder a nenhuma daquelas perguntas. Ainda assim, sentiu que o livro não deveria ser devolvido à biblioteca antes de ele descobrir o que estava acontecendo.

O garoto recolheu o livro do chão, o juntou aos outros três que estavam em seus braços e começou a voltar.

Já bem próximo de casa, encontrou Raymara, que voltava da casa de Fábio. Ela também trazia três livros em seus braços. Ela, então, perguntou:

– Por que você está voltando para casa com os livros? Você vai tomar uma multa se não devolvê-los.

Geovane já nem se lembrava da multa. Com a fala da irmã, separou os três livros de história e entregou-os a ela, ficando apenas com o livro de capa preta.

– Raymara, você pode devolver os meus livros também? Eu tenho que fazer uma coisa urgente.

– Claro! Eu só vou precisar de uma mochila, para carregar seis livros, isso mesmo, seis livros até a biblioteca. Também terei que ir sozinha, em uma cidade em que está na moda as pessoas desaparecerem e, também... você fica me devendo um imenso favor, afinal, estou livrando você de uma multa certa.

– Raymara, eu prometi não contar à mamãe que você foi à casa do Fábio. Me ajuda aí.

A menina olhou com uma cara pouco amistosa. Enfim, respondeu.

– Tá bem. Mas me ajuda a levar os livros até dentro de casa. Preciso pegar uma mochila.

Os dois entraram e jogaram os seis livros sobre o sofá. Geovane subiu as escadas correndo, ignorando aos conselhos da mãe sobre o assunto. Sentou-se mais uma vez na cadeira em frente à escrivaninha e abriu o livro a sua frente. Passou algumas páginas até chegar aos nomes. Precisava se certificar de que estavam mesmo corretos.

Bruce, Sofia, Elza, Samuel, Fábio e Laura.

Fábio e Laura eram, realmente, os dois últimos e estavam escritos com a caligrafia de Geovane. Ele então começou a forçar a memória, tentando se lembrar de quando poderia ter escrito aqueles nomes ali. Logo as lembranças começaram a brotar.

Lembrou-se que, na noite de sexta-feira, distraiu-se algumas vezes com o trabalho. Em algumas delas, passou as páginas do livro, lendo os nomes que lá estavam. Com o avançar da noite, acabou se cansando do trabalho e debruçando-se sobre o caderno, pensando na conversa que tivera com o amigo naquela manhã. Neste momento, escreveu o nome de Fábio no caderno.

Geovane não tinha como saber se Fábio já havia ou não desaparecido naquele momento mas, com certeza, ele ainda não havia sido informado disso.

Mas, e quanto a Laura? Quando ele teria escrito seu nome no caderno? Foi então que se lembrou da ligação feita pela mãe para desmarcar o horário com a cabeleireira. Ela repetira o nome da mulher diversas vezes durante a conversa. Mergulhado na tristeza, Geovane ouvira todo o diálogo com o livro aberto. Finalmente, as imagens lhe vieram, claras e inequívocas. Logo após o fim da ligação, ele rabiscou o nome da mulher no livro, abaixo do nome de seu melhor amigo.

Geovane estava chocado. Ele simplesmente não conseguia acreditar que havia alguma relação entre os nomes no caderno e o desaparecimento das pessoas. A única forma de confirmar era escrevendo o nome de alguém. Mas quem?

Neste momento, para a total infelicidade do animal, Nino despertou o garoto de seu transe. O gato, mais uma vez, tentava entrar no quarto pela janela. Geovane sabia que a vizinha sentiria muita falta do gato. No entanto, entre o felino e um ser humano, o menino considerou que melhor seria sumir com o animal.

Geovane abriu o caderno, segurou uma caneta de cor azul em sua mão direita e, mais uma vez, verificou a lista de nomes na página.

Bruce, Sofia, Elza, Samuel, Fábio e Laura.

Na linha imediatamente abaixo do nome da cabeleireira, Geovane escreveu: Nino. Então, olhou fixamente para o gato. O animal começou a ficar cada vez mais transparente, embora continuasse agindo normalmente. Sua coloração natural foi ficando cada vez mais fraca até que, finalmente desapareceu de vez.

A caneta escapou da mão de Geovane, caiu sobre a escrivaninha, rolou até a borda e, finalmente caiu no chão. O garoto não tinha qualquer reação. Sentado, permanecia paralisado. O único movimento foi o de uma lágrima escorrendo pelo canto de seu olho esquerdo. A culpa era sua!


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