CAPÍTULO 7

– Fábio está desaparecido.

A notícia caiu como uma bomba sobre Geovane. Como aquilo era possível? Ele e Fábio estiveram juntos na manhã anterior. “Eu sou seu amigo”, ele disse. Como podia ter desaparecido de um dia para o outro.

– Como assim desaparecido, mãe? Falei com ele ontem. Ele estava bem... estava feliz... estava...

– Ninguém sabe, filho. A mãe dele disse pouca coisa. Queria saber se ele estava aqui. Não deu muitos detalhes. Deve estar tudo de cabeça para baixo. Ela tinha esperanças de ele estar aqui. Agora...

– Mas o que ela sabe? Quando ficou sabendo?

– Hoje de manhã. Ela foi acordá-lo e ele não estava no quarto. Filho, foi só isso que ela me disse. Não quis pressioná-la. Ela deve estar sofrendo. Se ele entrar em contato com você, me avise.

Geovane começou a chorar. Para onde o amigo poderia ter ido? A frase “eu sou seu amigo”, uma das últimas que ouvira de Fábio, não saia de sua cabeça. Era tão triste pensar que Fábio simplesmente desapareceu.

Enquanto chorava e lembrava-se de seu amigo, Geovane começou a pensar em possibilidades. Ele poderia ter saído às pressas e não deu tempo de avisar a mãe. Logo em seguida, um pensamento terrível lhe ocorreu. E se Fábio foi sequestrado?

As lágrimas saíam de seus olhos de maneira incontrolável, deixando sua visão completamente embaçada. Raymara, com uma expressão triste, estava parada na porta do quarto, que a mãe de ambos deixara aberta. Ela olhava para a tristeza do irmão com solidariedade. No dia anterior, brincou com Fábio, no caminho entre a biblioteca e sua casa. Agora viviam um pesadelo.

– Irmão... ele está bem. Logo vão encontra-lo e vai estar tudo certo. Tenho certeza que ele está bem. Quem faria mal ao Fábio?

Esta era uma excelente pergunta: quem faria mal a Fábio? Geovane, agora, concentrava-se nisso, imaginando o caso de o menino ter sido mesmo sequestrado. Os únicos que passavam pela cabeça eram os valentões da escola. Murilo, o maior deles, com seu amedrontador sapato de bico de ferro, junto com seus três comparsas, fariam mal a qualquer um que passasse pela frente, mas não iriam até a casa de alguém. Dificilmente o sequestrariam.

O menino não conseguia pensar direito, ainda estava em choque. Sentado na cadeira, na frente da escrivaninha, onde fazia seu trabalho, ele inclinou-se para frente e apoiou a cabeça sobre seu caderno. Um pouco a sua frente, viu o livro de capa preta, ainda aberto na mesma página que havia deixado. As lágrimas nos olhos lhe impediam de ver o que estava escrito no caderno, mas ainda se lembrava dos últimos quatro nomes; Bruce, Sofia, Elza e Samuel.

Lembrou-se, então, que a última conversa que teve com o amigo foi sobre o livro. Fábio havia sido muito compreensivo. “Se você não contar, eu também não conto”, havia dito.

Geovane olhou para a porta e já não viu a irmã. Ela havia saído em algum momento, sem que ele percebesse. Não importava. Ele preferia mesmo ficar sozinho.

– O Fábio está desaparecido –, disse baixinho, repetindo as palavras da mãe, que ainda ecoavam em sua cabeça. Talvez, tentando se convencer que aquele absurdo fosse verdade.

– O Fábio está desaparecido... Fábio está desaparecido... Está desaparecido... Desaparecido...

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