CAPÍTULO 3

O caminho até a casa dos irmãos foi diferente para o trio. Fábio e Raymara se divertiam, jogando adedonha, com nome de cantores. A garota estava vencendo, o que, aparentemente, não incomodava o amigo. Ele sorria a cada novo nome que ela dizia, enquanto procurava seus próprios nomes.

– Você é muito ruim nesse jogo, Fábio –, dizia a garota, enquanto vencia mais uma rodada.

Um pouco para trás, Geovane estava submerso em seus próprios pensamentos. Desde que saiu da biblioteca, o menino pouco falou, limitando-se a dar respostas breves quando lhe faziam alguma pergunta. Depois de alguns minutos de caminhada, ele ergueu a cabeça e avistou sua casa, assim como uma visita indesejada logo na entrada: era Nino, o gato da vizinha. 

Geovane não nutria nenhum ódio oculto por animais, mas era alérgico a gatos. Certa vez, teve que ir ao hospital, após um gato entrar, no meio da noite, pela janela do seu quarto e deitar-se em sua cama. A companhia felina enquanto dormia desencadeou uma crise no garoto. Era mais seguro manter distância de qualquer um deles.

A situação com Nino, no entanto, era diferente. Ele costumava sair da casa da vizinha para procurar comida. O alvo, quase sempre, era a residência do garoto alérgico. O pior era que a vizinha o alimentava muito bem. Geovane não sabia se animais cometiam pecados, mas, se sim, com certeza aquele cometia o da gula.

– Raymara, você pode levar minha mochila para dentro?

– E por que você mesmo não leva?

– Vou acompanhar o Fábio até a casa dele.

– Vamos juntos, então.

– Não é uma boa ideia. Já demoramos muito, com a parada na biblioteca. Melhor você entrar e avisar a mamãe onde estivemos e para onde estou indo. Assim ela não fica preocupada.

Raymara olhou para o irmão com expressão desconfiada. Aquela história estava mal contada. Geovane escondia algo. O silêncio no caminho de volta também indicava para isso. Mesmo assim, ela agarrou a mochila vermelha com as duas mãos, afinal, estava bem mais pesada que o habitual. Os três livros extras da biblioteca explicavam. Sem fazer novas perguntas, a menina entrou em casa.

Ao vê-la se aproximar, Nino correu. Raymara apenas observou, enquanto continuava seu rumo até a porta da casa. Quando finalmente entrou, arremessou a bolsa do irmão no sofá e dirigiu-se para a escada, rumo ao seu quarto, mas uma voz a atrapalhou.

– Onde vocês estavam até agora?

Era a mãe de Raymara, Miriam. Ela, provavelmente, não percebera que apenas um dos filhos entrara em casa. Antes de notar, viu a mochila do filho jogada sobre o sofá.

– Isso é lugar de deixar a bolsa? Foi essa a educação que dei a vocês?

– Mamãe, passamos na biblioteca para pegar uns livros. Os meninos tem um trabalho para fazer neste fim de semana. Foi por isso que demoramos –, respondeu Raymara.

– E onde está o dono dessa mochila?

– Ele foi levar o Fábio até a casa dele. Pediu para eu trazer a mochila, mas está muito pesada para eu subir as escadas com as duas.

Miriam fez cara de desconfiada. Preferia que os filhos andassem juntos. Se um tinha que ir à biblioteca, era melhor que fossem os dois. Mas essa de Geovane levar o amigo em casa estava esquisita. Alguma ele devia estar aprontando. Seu instinto de mãe sabia que aquilo não era hábito dele. Iria tirar isso a limpo assim que o rapazinho chegasse em casa.

Enquanto isso, Raymara subiu as escadas e cuidou em guardar suas coisas. O fim de semana estava apenas começando e, ao contrário do irmão, ela não tinha nenhum trabalho a fazer. Era hora de aproveitar. A única coisa que a incomodava era o jeito estranho de Geovane desde a saída da biblioteca. Algo lhe dizia que ele escondia algo. Sua curiosidade não a deixaria sossegada enquanto não descobrisse o que era.

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