CAPÍTULO 8

O restante da manhã passou bem lentamente. Raymara parecia não encontrar seu lugar na casa. Andava de um lado para o outro, mas nada lhe distraia por muito tempo. Miriam estava ao telefone, tentando descobrir o máximo que pudesse sobre o estranho caso, já que desaparecimentos não eram comuns na cidade. Geovane continuava no quarto.

O menino já não chorava, mas sua tristeza continuava evidente. Do quarto, conseguiu ouvir a conversa da irmã com a mãe.

– Vou até a casa do Fábio, mamãe.

– Melhor não, filha, eles não devem estar querendo receber visitas.

– Vou dizer que estamos aqui, caso precisem. Também quero tentar descobrir algo.

– Você não acha que a família e a polícia já devem estar fazendo isso?

– Mamãe, quanto mais gente ajudando melhor. Tenho certeza que eles querem ajuda.

– Filha... eu não quero deixar você com medo mas... não, você não deve ir. O Fábio pode ter sido sequestrado. O sequestrador pode estar por aí. Talvez ele não queira apenas dinheiro. Pode ser um maníaco atrás de crianças. Você deve ficar em casa, por enquanto. Não quero que nada de mal lhe aconteça.

Com a cara emburrada, Raymara deitou-se no sofá da sala.

Geovane acompanhou todo o falatório do quarto. Ele concordava com a mãe. Era mais seguro ficar em casa. Por outro lado, também queria ir até a casa de Fábio. Ele pegou uma caneta e começou a fazer rabiscos aleatórios.

O menino também notou a intensidade dos passos da irmã no caminho entre o local que conversou com a mãe e sua parada seguinte. Não eram passos de alguém conformado.

Perdido em seus pensamentos, Geovane começou a ouvir a nova conversa da mãe ao telefone. Desta vez, ela parecia querer desmarcar o horário na cabeleireira. A profissional, contudo, aparentava resistir à ideia.

– Desculpe, Laura, mas eu realmente não poderei ir. Laura é que... eu sei, Laura, mas eu realmente... Laura, você não está entendendo... Laura... Laura... você sabe do menino que desapareceu? Laura, me escute: sabe o menino que desapareceu? Então, Laura, ele é o melhor amigo do meu filho mais velho. Sim, Laura. Meu filho está muito triste. Vou ficar em casa, com ele. Isso mesmo, Laura. Vamos marcar para outro dia, querida. O próximo fim de semana pode ser uma ótima ideia, Laura. Não estou com cabeça para isso hoje. Me desculpe, amiga.

Aparentemente, a mãe conseguiu desmarcar. E quantas vezes ela havia dito o nome da cabeleireira? Dois pequenos devaneios de Geovane, antes de voltar a pensar no amigo. De repente, Miriam entra no quarto.

– E então, filho? Como você está?

O menino olhou para a mãe. Seu semblante refletia um imenso pesar.

– Eu só queria que ele voltasse –, disse o menino.  As lágrimas voltaram a correr de seus olhos.

A mãe o abraçou e o manteve bem apertado em seus braços. A dor do menino não podia ser medida. Ele precisaria de tempo para processar tudo aquilo. Mas todos ainda torciam para que Fábio fosse logo encontrado.

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