CAPÍTULO 1

A aula era de matemática, mas, na cabeça de Geovane, os pensamentos estavam todos voltados para a disciplina de história. Era sexta-feira e, assim que o sinal batesse, começaria mais um fim de semana. Mas ele não estava empolgado como de costume. Na segunda-feira teria que entregar um imenso trabalho sobre a Idade Média. Embora o prazo inicial fosse de um mês, ele havia deixado para fazê-lo na última hora.

Não era hábito do garoto, de apenas dez anos, deixar as atividades escolares para depois. Pelo contrário. Normalmente fazia logo e libertava-se da responsabilidade. Como sua mãe costumava dizer: os estudos primeiro.

Ele já havia traçado seu plano. Ao sair da escola, passaria direto pela biblioteca municipal, pegaria alguns livros, e então iria para casa. Teria de ser responsável para concluir o monstruoso trabalho a tempo.

Na frente da sala, a professora continuava explicando sobre expressões numéricas. Nada que o amedrontasse. Ele estava mais preocupado com a saída da escola. Era sempre necessário evitar os valentões, que tentavam se dar bem às custas dos menores.

É bem verdade que Geovane não era exatamente menor. Ele era bem alto para a sua idade, mas seu corpo franzino não impunha respeito em ninguém. Às vezes, era necessário correr para não levar uma surra.

Recentemente, Geovane adotou outro comportamento. Optou por sair discretamente, entre a multidão, de modo a não ser percebido. Vinha dando certo e, por isso, ele não pretendia mudar a estratégia.

Finalmente, ouviu o barulho da sirene. Começou a colocar o material na mochila, ainda pensando no imenso trabalho.

– Que lerdeza, Geovane. Vamos logo! Sabe que temos que ser rápidos.

A voz estridente era conhecida de Geovane. Tratava-se de Fábio, seu único amigo na escola. Baixinho e também franzino. Os dois voltavam para casa juntos, todos os dias, adotando as mesmas estratégias.

Geovane levantou-se, já com todo o material na mochila e, enquanto a colocava nas costas, lembrou ao amigo de sua tarefa diária antes de saírem da escola.

– Temos que passar na sala dela.

– Não temos não – disse Fábio, apontando para porta.

De lá, uma menina mais baixa que ambos, de longos cabelos escuros e cacheados os olhava. Tratava-se de Raymara, irmã mais nova de Geovane. Havia pouca semelhança física entre os dois.

Ele também tinha cabelos escuros, mas bem lisos e curtíssimos, quase um corte militar. Enquanto ela ostentava uma pele clara, Geovane era moreno. A diferença de altura entre ambos sugeria que ele era bem mais velho que ela, embora a real diferença de idade entre ambos fosse de apenas um ano.

– Então podemos ir – disse Geovane, enquanto caminhava na direção de sua irmã.

A saída foi tranquila. O trio infiltrou-se discretamente entre alunos do oitavo ano. De longe, viram o quarteto de valentões mais conhecido da escola espancar a vítima da vez. Embora ninguém tenha dito nada, todos ficaram aliviados de saber que estavam livres daquela surra.

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