CAPÍTULO 9

Raymara jogou-se com muita força no sofá. Era uma das suas formas de demonstrar seu descontentamento. A menina sabia que a mãe estava certa por estar preocupada, mas não havia desistido da ideia de sair de casa. Ela queria ver tudo com seus próprios olhos.

A mãe pegou novamente o telefone e começou a falar com Laura, sua cabeleireira. Raymara, então ficou de olho, esperando uma oportunidade. Miriam continuava andando de um lado para o outro da sala, com o telefone ao ouvido. Finalmente, desligou.

Sem sequer olhar para a filha, Miriam subiu as escadas, rumo ao quarto de Geovane, era a oportunidade perfeita. A menina levantou-se, pegou o par de sandálias com sua mão direita e, descalça, andou na direção da porta. Evitou fazer barulho na mesma medida em que se esforçou para caminhar depressa.

Ao passar pela porta, a menina colocou o par de sandálias no chão, enfiou os pés neles e, finalmente, começou a jornada rumo à casa de Fábio. Foram cerca de dez minutos de caminhada, enquanto se esforçava para ser discreta e observar todos os rostos, evitando possíveis ameaças. Embora estivesse curiosa, não queria ser a próxima vítima de um psicopata por crianças.

Ao chegar, não havia carros de polícia no local, mas um aglomerado de pessoas. Ela se misturou com a multidão até entrar na casa, momento em que avistou Glória, a mãe do desaparecido. A menina aproximou-se e perguntou:

– Dona Glória, a senhora está bem?

Raymara sabia que não era a pergunta mais inteligente a se fazer. Era óbvio que não estava. A mãe do menino chorava baixinho e, ao olhar para a garota, começou a repetir:

– Ele não estava lá! Ele não estava lá! Ele não estava lá!

Raymara sabia que o desespero da mãe era imenso. Havia três mulheres ao seu redor, consolando-a. A menina observou a escada que levava para o quarto do menino. Então, caminhou devagar e disfarçadamente em sua direção. Ao alcançá-la, aproveitou o momento, já que todas as atenções estavam voltadas para Glória, e subiu.

Chegando ao quarto de Fábio, a porta estava aberta, contudo, isolada por fitas amarelas e pretas, da polícia. Ela rastejou pelo chão, aproveitando o espaço existente, e entrou no quarto. Lá, ficou ainda mais curiosa com o caso.

O caderno e os livros do menino ainda estavam abertos sobre a bancada, onde ele fazia o trabalho de história. A caneta estava sobre o caderno. Havia um copo com água um pouco acima da metade. A cama estava perfeitamente arrumada, sinal de que ninguém havia dormido ali.

O que mais chamou a atenção de Raymara foi o trabalho de história, interrompido de maneira abrupta. A última coisa escrita no caderno era “com grande influência na Idade Média, a Igre”.

A letra “e” estava puxada, como se ele fosse formar outra letra na sequência. Talvez a palavra completa fosse “Igreja”, mas não foi concluída. O menino saiu dali antes disso.

Os barulhos vindos do andar de baixo quebraram o transe da menina. Precisava descer, antes que alguém a visse. Saiu do quarto rastejado, da mesma forma como entrou. Desceu a escada e voltou até bem próximo de Glória, ela estava em silêncio, com o olhar vago. Era possível ver algumas lágrimas escorrendo.

A menina foi para o lado de fora, com a clara intenção de ir para casa. No caminho, ouviu uma conversa entre duas mulheres que não conhecia. Era algo sobre a polícia.

– A polícia parece que ainda não faz ideia do que aconteceu.

– Eu ouvi um deles dizer ao outro que não havia sinais de arrombamento ou resistência. Se o menino saiu, foi porque quis.

– Talvez o sequestrador usou algo para fazê-lo dormir, para poderem levá-lo.

– Isso deve ser coisa dessas quadrilhas de contrabando de órgãos, coisa triste!

Raymara se lembrou do aviso da mãe sobre o psicopata. “Não quero ter meus órgãos roubados”, pensou. Saiu dali, rumo a sua casa. Ainda tinha que entrar sem que sua mãe percebesse.


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