CAPÍTULO 12

Eram cerca de 10h da manhã de domingo, quando um carro preto brilhante entrou na cidade pela avenida principal. Passou na frente da escola onde Fábio, Geovane e Raymara estudavam. Ali, baixou o vidro o suficiente para identificar o nome da rua que estava em uma pequena placa, grudada no muro do lugar. Continuou pela avenida, sempre checando as placas, até encontrar a rua onde as crianças moravam. Seguiu, então, por ela, para a esquerda.

O veículo, claramente, reduziu a velocidade, observando a numeração das casas, até chegar ao 1447. Esta era a casa do menino desaparecido.

Três homens, todos usando paletós e gravatas, desceram do veículo e foram até a porta da casa. Tocaram a campainha e aguardaram, até que uma mulher loura, de olhos castanhos, com cerca de 45 anos, veio atender. Era Glória, mãe de Fábio.

– Pois não –, disse ela, não reconhecendo nenhum dos visitantes.

– Bom dia! Gostaríamos de falar com a senhora Glória –, respondeu o mais alto deles, com um largo sorriso no rosto.

– Já está falando. Quem são vocês?

– Oh! Verdade? Que ótimo. Eu sou Manoel. Estamos viajando desde ontem pela manhã com o único objetivo de encontrá-la. Estes são meus amigos. Luís e Danilo.

Manoel era branco e carregava um livro grosso e de capa preta nas mãos, que logo Glória percebeu ser uma Bíblia. Ele aparentava estar próximo dos 30 anos. Luís era mais jovem e o único negro do trio. O paletó não era suficiente para disfarçar o corpo musculoso. Danilo tinha pele clara. Com cerca de um metro e setenta, mais baixo que Manoel e mais alto que Luis. Glória não deixou de notar os olhos amendoados deste último.

– O que vocês querem comigo? –, perguntou ela.

– Trouxemos uma mensagem divina, senhora Glória. Estamos trazendo conforto. Deus não lhe abandonou.

– Desculpem, por acaso vocês sabem o que está acontecendo com minha família?

Embora mais controlada que no dia anterior, Glória ainda estava visivelmente abatida. O entra e sai de pessoas, a polícia fazendo perguntas, uma noite muito mal dormida... tudo colaborava para que ela estivesse um trapo.

– Sabemos sim, senhora Glória. E estamos aqui para lhe trazer conforto. Deus está contigo.

– Deus? Não. Acho que Deus me abandonou. Ele levou meu filho –, a mulher então volta a chorar.

– Senhora, eu entendo a sua dor. Mas Deus nunca nos dá um fardo maior do que podemos carregar. Lembre-se que Deus testou a fé de Abraão pedindo-lhe que desse seu único filho em oferta. Certamente Ele está lhe observando agora e cuidando do seu filho.

– Meu filho. Onde está meu filho? Por que Deus fez isso comigo?

– Não vamos questionar os planos de Deus.

A mulher tentou conter o choro. O sábado já havia sido de muitas lágrimas.

– De que religião vocês são?

– Isso não é importante, senhora Glória. Deus é um só.

Glória convidou os três homens a entrarem em sua casa. Eles sentaram em um sofá enquanto ela foi para uma poltrona. Os homens continuaram a falar para ela sobre a importância de confiar no plano divino. Ela parecia mais confortável a cada palavra.

*****

Eram cerca de sete horas da noite quando, na rodoviária, um homem grisalho, já na casa dos cinquenta anos, desce do ônibus, com apenas uma pasta pequena embaixo do braço. Ele começa a mostrar um pequeno recorte de jornal para as pessoas, até que alguém lhe indica uma direção. Ele, então, a segue. É possível perceber um leve problema no seu passo. Talvez alguma má formação da perna esquerda.


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