CAPÍTULO 2

A biblioteca era quase no caminho das casas de todos eles, embora tivessem que fazer um pequeno desvio de apenas uma quadra. Assim como Geovane, Fábio não tinha feito o trabalho e queria aproveitar para também pegar alguns livros.

Os três chegaram à biblioteca municipal e deram de cara com a recepcionista dormindo. Ela já era uma senhora de idade e não era a primeira vez que a encontraram naquela situação. Geovane logo pensou em quão ‘emocionante’ deveria ser a profissão dela. Naquele momento, os três eram os únicos na biblioteca além, é claro, dos funcionários. Ficar sentada por horas naquela cadeira, sem ninguém passando, deveria ser, de fato, entediante. Por fim, decidiram não interrompê-la e rumaram para dentro.

Era importante sair logo, afinal, um imenso trabalho os aguardava. Raymara, que apenas acompanhava o irmão, foi explorar o local, enquanto os garotos reviravam os livros na seção de história. Embora o acervo não fosse grande, eles estavam certos que encontrariam o que procuravam, afinal, não devia ser difícil encontrar informações sobre a Idade Média.

Fábio logo separou três livros e se deu por satisfeito. Seus enormes olhos castanhos pareciam brilhar ainda mais por já estar com o material em mãos. Era só ir para casa e começar a escrever.
Por outro lado, Geovane estava indeciso. Havia cinco bons livros em suas mãos, mas as regras da biblioteca só lhe permitiam levar três. Seu amigo, então, apressou-se em ajudar-lhe com um conselho.

– Se todos são bons, escolhe qualquer um.

Geovane estava quase se convencendo de que o amigo estava certo quando sentiu falta da irmã.

– Viu aonde a Raymara foi?

Fábio fez que não com a cabeça. Ambos deixaram seus livros separados e começaram a procura. Foram juntos. O lugar era pequeno, não devia ser difícil encontrá-la.

Foi o amigo quem a viu primeiro. Ela estava em uma pequena sala, próxima a uma mesa cheia de livros velhos. Os dois entraram no pequeno compartimento, onde não havia ninguém além da garota.

– Não era para você sair de perto –, disse Geovane, em tom de reclamação.

– É que eu vi uma moça saindo daqui. Queria saber o que tinha e vim dar uma olhada –, retrucou a irmã.

– É óbvio que tem livros. Isso é uma biblioteca. O que você esperava que tivesse aqui? Batata frita?

– Eu só queria ver.

Enquanto isso, alheio à briga dos irmãos, Fábio olhava para a mesa cheia de livros. A maioria deles em péssimo estado. Não demorou até chamar a atenção dos dois.

– Olhem. São livros velhos. Será que vão jogar fora?

Rapidamente todos olharam para a mesa. Geovane sabia que havia uma forma de recuperar livros velhos, mas não sabia exatamente o que acontecia. Chegou a ensaiar uma resposta ao amigo, mas logo se conteve. Um livro lhe chamou a atenção. Enquanto a maioria dos exemplares da mesa tinham capas coloridas e flexíveis, este era em capa dura e toda preta. Não havia letras, apenas um leve relevo, gasto pelo tempo. O garoto tentou, tateando, mas não conseguiu identificar a que se referia. Sequer reconheceu as letras.

Outra coisa que chamou a atenção foi o fato daquele livro não conter o carimbo característico da biblioteca. Seu estado de conservação, contudo, era lastimável. O garoto estava em transe, a ponto de não notar quando os outros saíram da sala.

Quando Fábio e Raymara chegaram aos livros escolhidos para o trabalho, notaram que o irmão dela não os acompanhava, olharam para o caminho por onde passaram e, finalmente, viram Geovane, bem afastado, vindo a passos lentos. Fábio olhou as duas pilhas e disse, ironicamente.

– Nossa! Que progresso! Você eliminou um dos livros. Agora são apenas quatro. Elimine mais um e poderemos ir para casa.

Geovane se aproximou e, sem sequer olhar, agarrou um dos livros e o separou da pilha. Em seguida, segurou os três restantes.

– São estes, vamos embora –, disse, enquanto caminhava na direção da porta por onde haviam entrado.

Na saída, os três, mais uma vez, passaram pela recepcionista. Dessa vez, tiveram que acordá-la. Ela registrou os livros escolhidos pelos garotos e a data de devolução. Eles saíram da biblioteca. Enquanto Fábio e Raymara conversavam, Geovane permanecia distante e em silêncio.

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